terça-feira, outubro 02, 2007

Abstinência de Felicity

Eu ia escrever um texto sobre cheiros, já tinha até meio que preparado. Mas vai ficar para a próxima. Estava em Los Angeles, andando meio sem rumo, e por acaso entrei naquela loja imensa de CDs, DVDs e milhares de outras coisas, a Virgin. Eu estava no meu último dia de viagem, não querendo voltar para o hotel. E, claro, parei para olhar os DVDs de séries.

Foi aí que o texto de cheiros ficou para segundo plano. Encontrei, de primeira olhada na estante, uma série que adorava, mas que nunca acompanhava direito porque não conseguia memorizar os dias em que ia ao ar. Felicity. Por burrice só comprei a primeira temporada, que, óbvio, assisti toda em menos de uma semana. Agora sofro de uma crise de abstinência incrível.

Felicity é uma menina que muda drasticamente o rumo da sua vida por causa de um cara. Ou melhor, por causa de um texto que esse cara escreve para ela. Ela está se formando na escola e tinha tudo certo e preparado para ir para universidade de Stanford. No dia da formatura, num raro lapso de coragem, ela pede para o tal menino por quem é apaixonada, mas com quem nunca trocou mais do que duas palavras, escrever em seu yearbook (aquela tradição que só os americanos têm e conservam). E é o que ele escreve que faz ela se matricular não em Stanford, que fica do lado de casa, na Califórnia, mas sim numa universidade em Nova York, do outro lado do país. Porque era para lá que ele estava indo.

A série é cheia de pequenas mensagens, que podem até parecer uma espécie de auto-ajuda, mas são bem melhores do que isso, acreditem. Talvez seja por esse motivo que eu esteja evitando colocar algumas das frases que ouvi nos episódios aqui. Elas podem passar uma impressão errada, se forem retiradas do contexto. Mas uma coisa é certa: eu amo Felicity não só pelas pelas mensagens que surgem nos meios diálogos, mas, principalmente, pelos silêncios.

Felicity é a primeira personagem de séries americanas que eu conheço que fica em silêncio. Que hesita. E são os momentos de silêncio dela que fazem com que eu me identifique ainda mais com tudo aquilo. Porque é aí que você percebe como, às vezes, podemos nos sentir incrivelmente sós, mesmo estando rodeados de um monte de pessoas. Porque eu tenho a impressão de que ela fica em silêncio porque ninguém seria capaz de compreender o que ela poderia querer dizer.

Preciso encontrar, urgentemente, alguém que entenda o que eu estou tentando dizer. Alguém que, de preferência, seja fã de Felicity. Para eu me livrar dessa sensação de solidão.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Superpoderes

E se eu tivesse um superpoder? Na verdade, eu tenho um. Ok, dois. Eu consigo acordar na hora que preciso, mesmo sem despertador. Se for um compromisso realmente importante, que eu não quero perder de jeito nenhum, eu consigo acordar. E o segundo é que eu tenho um sexto sentido em relação às pessoas. Só de trocar uma ou duas palavras, ou, às vezes, só de olhar, eu consigo saber qual é a daquela pessoa. Se ela vai ser legal para mim, se ela está me enganando de algum jeito...

Um deles eu acho que é hereditário. Porque talvez tenha sido herdado pela minha sobrinha mais nova, a Caroca. Existe um encontro de família que ela, que acabou de fazer três anos, não consegue participar. Porque tem uma pessoa que ela não consegue nem olhar. Ela se agarra nos outros e tapa os olhos com as mãos, não quer nem saber. E eu acho que é porque ela tem esse mesmo tipo de sensação que eu tenho. A tal pessoa, que está sempre presente nesse encontro de família específico, não vai ser boa para ela.

Nos últimos tempos, por causa da vida corrida, eu vinha desejando adquirir mais um superpoder: o do teletransporte. Ia facilitar um bocado a minha rotina. Ando pesquisando como se faz para conseguir. Ainda não descobri.

Mas descobri que, assim como qualquer super-herói, eu também tenho minhas superfraquezas. A mais importante delas: quando estou contando algum fato muito importante para mim, algo que realmente marcou a minha vida, eu tremo. Não no sentido figurado. Eu tremo de verdade, como se estivesse com frio.

Não foram muitas as vezes em que passei por isso. Mas elas me marcaram de uma maneira tão intensa que agora, só de contar isso aqui, estou começando a sentir esse mesmo tipo de frio. Acho que vou colocar um casaco. Para não dar chance aos que não têm o superpoder do sexto sentido em relação às outras pessoas de sacarem qual é a minha ou o que é realmente importante para mim. Porque eu dou muita bandeira.

segunda-feira, julho 09, 2007

Eu queria voltar

Eu descobri uma rádio. O nome é Atlântida FM e só pega depois que eu saio do Rebouças, em direção ao trabalho. Na Zona Sul, não pega de jeito nenhum. E mesmo quando pega, já quase perto do Centro, pega mal. Eu tenho que passar o dial devagarinho porque pelo automático o rádio não pára nela.

O grande lance é que essa rádio só toca sucessos dos anos 70 e 80. E todas as músicas que ela toca me fazem viajar para a minha infância. E ali, naquela situação mais adulta do mundo, a caminho do trabalho, eu tenho vontade de chorar. Não que o trabalho não seja bom, aliás, ele é ótimo. Mas a angústia de ter virado adulta não some jamais.

Talvez nem seja o fato de ter virado adulta propriamente. Talvez seja a clara noção de que tudo aquilo que eu vivi não volta mais. Nunca mais. Tenho horror a pessoas que acham que suas infâncias foram as melhores do mundo. E que repetem "as crianças de hoje não têm a sorte que eu tive" ou "ser criança no meu tempo é que era bom". Eu não acho nada disso.

Eu só acho que daria até um braço para voltar a ter a sensação de ter 9 anos e estar me preparando para a noitada da colônia de férias. Ou de já ter uns 15 e estar encontrando os amigos, em um primeiro dia de machané central.

Eu nem sou muito fã dele, mas umas frases do Rubem Alves se encaixariam aqui: "Os adultos querem andar para a frente. Progredir. Os poetas sabem que a alma não deseja ir para frente. A alma é movida pela saudade. A saudade não deseja ir para a frente. Ela deseja voltar".

Tudo bem, eu não sou poeta. Mas eu também sei que a minha alma queria voltar.