sexta-feira, novembro 19, 2004

Mulherzinha

Em quase todas as minhas relações, acho que sempre assumi uma posição um tanto masculina. Não pensem bobagem, eu explico. Todo mundo diz que são as mulheres que a-do-ram discutir a relação, que são as mulheres que a-mam fazer uma cena de ciúmes e que são as mulheres que i-do-la-tram os homens que choram na frente delas.

Eu nunca curti muito esse tipo de coisa. A verdade é que eu sempre tive muito medo de incomodar. Eu detesto sentir que estou incomodando as pessoas. Acordar um namorado no meio da noite para dizer que não estou bem? Puxar alguém pelo braço para contar meus problemas? Eu até posso fazer isso, mas vou pedir muitas desculpas antes, durante e depois.

Isso se reflete até na análise. Minha ansiedade por pedir desculpas ao analista é tamanha que eu sempre pergunto, no final das sessões, se aquele é o dia de pagar. Um adendo: eu só tenho que pagar de duas em duas sessões. Mas a minha consciência pesa tanto por fazer aquele homem ouvir minha ladainha por uma hora inteira, que eu sempre acho (de verdade) que todo dia é dia de pagar.

Tenho que confessar que o meu lado mulherzinha às vezes se manifesta. Muito raramente ele sai de algum lugar escondido. E aí faço coisas que nem eu sei explicar de onde tirei. Tudo aquilo que a Josy masculina abomina, para ser mais específica. Ainda tô para descobrir qual dessas é a Josy de verdade. Se alguém tiver uma pista...

quinta-feira, novembro 11, 2004

5 minutos

Eu estava enrolada. Fui tentar uma prova importante aí e me vi perdida entre livros que tratavam de assuntos totalmente novos para mim. Achei que tinha dado conta do recado. Até a hora em que a prova terminou e eu não tinha passado todas as minhas respostas a limpo. Elas estavam legais no rascunho, mas na prova que eu entreguei me pareceram incompletas, já que tive que resumir quase tudo em 5 minutos.

Dito isso, vários pensamentos. O primeiro: qual o sentido de não poder consultar livros em provas? Alguém aí pode me apontar algum momento da vida real em que a gente não possa consultar livros, anotações ou internet? Li um monte de textos que criticavam exatamente esse tipo de avaliação, que é capaz de medir apenas a sua capacidade de memorização. Bom, isso foi só para desabafar.

O segundo pensamento diz respeito à minha incapacidade máxima de passar a limpo quase tudo na minha vida. Tudo é um enorme borrão. Não consigo tomar decisões, não consigo me livrar do que não gosto e não consigo agradar a quem realmente gosto. Tenho vontade de pedir pelo menos uma hora a mais de prova para consertar todos esses estragos. Mas a moça que tomava conta do teste me disse: "Não gosto de fazer o papel da repressão, mas não posso esperar mais do que 5 minutos". É isso aí. Em 5 minutos eu não dou conta do recado.

quarta-feira, outubro 20, 2004

"Let's get it on"

Quem aqui compra revistas de noiva? Eu faço isso. Aliás, eu fiz isso depois de uma crise no relacionamento. Comecei a perceber que as coisas não estavam indo bem, passei por uma banca de jornal e levei uma revista com moça vestida de branco. Mas deixa eu esclarecer uma coisa: não estou desesperada para casar. Acho que não consigo aceitar o fato de que as pessoas assinam um papel jurando que vão ficar juntas pelo resto da vida. Na verdade, acho que casamento me dá um pouco de medo. Então quem é que consegue explicar essa ligação Josy-revistas de noiva?

Bom, confesso que se estivesse para casar, ficaria muito empolgada em escolher a trilha sonora da festa. Pensa só: é quase como um filme. Para cada momento tem uma música. Noiva entra, sobe o som. Noivos se beijam, sobe o som. Noivos saem, sobe o som. Quem, na vida real, consegue isso? Ninguém tem música de verdade tocando de fundo na hora em que diz "eu te amo" pela primeira vez, tem? Bom, pode até ter, mas ela não entra na hora certa, no ponto certo, com a intensidade certa. Ela, provavelmente, estava ali tocando e assim continuou.

De tanto pensar nisso, cheguei a algumas conclusões. Se um dia eu me casar, a música que vai tocar na entrada da noiva é "Meu esquema", do Mundo Livre S/A. Outra que eu gostaria de usar em algum momento da festa é "Let's get it on", naquela versão cantada pelo Jack Black, em "Alta Fidelidade". Mas li em uma reportagem que Marvin Gaye foi o mais votado como compositor das melhores músicas de motel e por isso resolvi repensar. Mas a última das conclusões é que talvez a grande graça de toda essa história de casamento com papel passado, para mim, seja a festa.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Fantasias

Eu sou doente. Eu troquei a noite pelo dia e estou aqui, às 3 da manhã, em frente ao computador. Tudo isso porque comprei a 5ª temporada de "Sex and the City" e vi tudo de uma vez, na madrugada passada. Estou dizendo que sou doente, não estou? Não consegui guardar um episódio sequer para ver hoje, enquanto não consigo dormir.

A verdade é que já não vinha dormindo direito desde uma festa à fantasia do fim de semana. Ok, posso contar uma vantagem? Todo mundo conta, mas eu tenho um pouco de vergonha. Então, lá vai: fui a uma festona no MAM, com direito a show das Frenéticas e tudo liberado. Mas essa nem é a melhor parte. A parte mais estranha (e, por isso, mais legal) é que essa era a festa de 50 anos de uma tia. Foi a oportunidade única de encontrar seres da família fantasiados. Não preciso dizer que passei a noite tentando entender as escolhas de cada um.

Minha mãe estava de onça. Meu pai se vestiu de árabe. Já a minha tia estava de noiva. Noiva mesmo, com vestido alugado em loja de vestido de noiva. Explicação rápida: era também seu aniversário de casamento. Sinceramente, preciso da ajuda de um psicanalista para desvendar os mistérios que envolvem essas escolhas de fantasias.

Eu estava de gatinho. Com uma fantasia feita por mim, ao contrário do resto dos convidados, que fizeram questão de alugar. Eu também queria alugar, mas faltou dinheiro. Confesso que cheguei a ir até a loja e fiquei em dúvida entre duas. Primeiro pensei em Penélope Charmosa. Mas logo depois me encantei por uma fantasia de Smurfete. Quem desvendou o mistério das minhas escolhas foi o meu namorado. Talvez eu queira ser a única menina do vilarejo. Ou a única moça da Corrida Maluca. Vai entender...

segunda-feira, setembro 27, 2004

Quebrando o jejum

As outras famílias têm questões que nunca vamos entender. Por mais que eu, você ou qualquer outra pessoa tente, é muito difícil compreender algumas das discussões que envolvem a família dos outros.

Isso ficava muito claro para mim quando passava uns dias na casa de uma amiga, há muitos anos atrás. Eles sempre foram muito engraçados e divertidos, mas todo esse clima podia desaparecer de uma hora para outra na mesa de jantar. Questões, que para mim pareciam banais, podiam a qualquer momento virar discussões acaloradas. E eu, que não tinha o mesmo sobrenome que eles e estava sentada por ali, sempre morria de vergonha.

A minha família também tem questões que ninguém nunca vai entender. Uma delas, certamente a mais gritante, é o fato de não termos - eu e minhas irmãs - nenhum tipo de contato com a mulher do meu pai. Eles são casados há 20 anos. Antes que surja alguma dúvida, vou logo deixando claro: nunca fui na casa do meu pai, nunca troquei uma palavra com a enteada dele e fiquei 19 anos sem ver a sua mulher. Nem eu sei explicar direito o que acontece, apesar de fazer parte dessa família.

Pois bem, eu quebrei parte desse jejum minutos antes do início do Dia do Perdão, aquele em que todos os judeus devem jejuar por um dia inteiro. Antes que surja outra dúvida: eu sou judia, mas nunca consigo jejuar no Dia do Perdão. Não é que não consigo, eu apenas não tento.

O jejum do Dia do Perdão nunca deve ser quebrado com comida pesada. Até porque, se isso fosse permitido, todos os judeus passariam mal no dia que consideram o mais importante do ano. O meu jejum também foi quebrado de leve. Cheguei perto do meu pai e da mulher dele, que estavam na mesma sinagoga que eu, e dei boa noite e dois beijinhos em todo mundo, como se isso fosse extremamente normal.

Ela não foi nada receptiva. Fez aquilo como se estivesse cumprindo uma obrigação. Pensei muito nisso e cheguei à conclusão de que talvez eu tenha sido comida muito pesada para essa moça, depois de tanto tempo sem comer. Ela deve ter tido uma indigestão.

terça-feira, setembro 21, 2004

Discrição acima de tudo

Eu tenho mania de mexer no que não devo. Um aviso: não deixe nada seu comigo. Eu vou abrir, ler e esmiuçar até não restar mais nada. Eu fiz isso um dia com um diário de um ex-namorado. Vi, peguei e li: simples assim. Vergonha, vergonha, vergonha. Achei o que não queria achar. Daí o namoro desceu ladeira abaixo. Mas acredito que desceria a ladeira mesmo que isso não tivesse acontecido. Tempos depois ele devolveu na mesma moeda e fez o mesmo com o meu diário. E aí sim o namoro-defunto foi dado como morto.

Por que conto isso? Nem eu sei. Na verdade busco uma maneira de me livrar dessa obsessão pelo que é alheio. Todo mundo acha graça das comunidades do orkut. Eu não. O meu lance ali é fuxicar profiles e álbuns de fotos de gente que eu conheço pouco ou nem conheço. O mais engraçado é encontrar essa gente depois e fingir que eu não sei nada sobre suas vidas.

Porque voyeur que é voyeur é discreto e finge que não sabe de nada. E eu não conheço figura mais discreta do que eu.

Histórias para a posteridade

Eu não sei o que é ter que parar de brincar com a massinha para tomar banho. Hoje eu vi uma cena e não consegui segurar o riso. Minha pequena sobrinha de 2 anos chorou baldes porque foi obrigada a parar de brincar com a massinha. Ela sabia que a caixa embrulhada para presente tinha um milhão de potinhos de massinha antes mesmo de rasgar o papel de presente. E tudo o que ela queria era abrir todos os potinhos e me dizer o nome de todas as cores de todas as massinhas.

Mas aí: hora do banho. A babá chegou perto. E ela, que percebeu o que estava para acontecer, deu uns tremiliques e aí... litros de lágrimas. Lágrimas de verdade. Muitas. Todas. Em profusão. Eu ri (porque não sabia como me portar naquela situação) e levei um carão da babá. Me senti culpada.

Saí de lá, esbarrei em um primo na rua e narrei a cena. E ele me disse, com a cara mais séria do mundo, que "eu não sabia o que era ter que parar de brincar com a massinha para tomar banho". E eu decidi que vou guardar essa história.

Uma das únicas histórias que a minha mãe guarda da minha infância é a de uma noite em que eu chorei baldes porque queria fazer uma caricatura, em um dos parques da Disney. Pede pra minha mãe contar alguma lembrança da minha infância e vc ouvirá essa história. Pede outra e nada mais vai sair dali.

Tremenda sacanagem. A minha infância se deu em uma época em que não existiam máquinas digitais ou câmeras de vídeo por todos os cantos. As poucas fotos (raríssimas, já que sou a terceira filha) não contam muito. Tudo o que sei é que chorei uma noite inteira por causa de uma caricatura. As pessoas deveriam nascer com um aviso pendurado no pescoço: "Caros pais e familiares, guardem as lembranças da infância desse novo sujeito. Elas serão importantes para ele em um futuro não muito distante."

Nos últimos anos, com muito esforço, consegui colecionar uma porção de fragmentos de memória dos anos que precederam os meus 10 anos. Com o tempo vou contando aqui. São momentos inéditos até para quem os viveu comigo, já que nem a minha mãe lembra.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Dersu Uzala

Meus pais se separaram quando eu tinha 5 anos. Eu não escrevo isso para explicar as conseqüências desse fato sobre esta pessoa de 25 anos, que hoje vos fala. Já basta o analista me perguntando se as causas de vários dos meus problemas atuais não estão relacionadas a isso. Eu escrevo só para contar algumas historinhas da infância.

Logo depois que eles se separaram, minhas irmãs mais velhas não curtiam muito encontrar com o meu pai nos fins de semana. Só eu levava isso adiante. Mas o meu pai era um cara de pouco mais de 30 anos e acredito que não levava muito jeito para com sua filha de apenas 5.

Não é que não levava muito jeito, ele apenas não sabia escolher muito bem os programas. E um desses programas (meu Deus, ninguém nunca vai me fazer parar de falar disso) foi me levar ao cinema. Tudo muito bem, não fosse o filme. Alguém aí já viu "Dersu Uzala"? Com 6 anos recém-completos?

Uma breve sinopse: "Dersu Uzala é um caçador que vive nas florestas da Sibéria em completa comunhão com a natureza. Certo dia conhece o capitão Arseniev, chefe russo de uma expedição cartográfica, daí nascendo uma profunda amizade, dessas que duram a vida toda." Ou seja, um filme cabeça, de 1975.

Quantas horas de filme? Duas horas e meia. A recordação mais intensa é de um homem de olhos puxados no meio do verde. Um homem de olhos puxados durante muuuuito tempo no meio de muuuuuiito verde.

O que qualquer criança normal faria? Provavelmente, se eu levasse minha sobrinha para um programa desses no melhor estilo "Cine Ricamar", ela sairia fora. Assim como o filho de uma amiga minha, que puxou a mãe pelo braço no meio de uma sessão dizendo que o filme que tinham ido ver não servia e que eles iriam embora.

Mas eu apenas assisti e disse que gostei muito, com a cara mais lavada do mundo. Eu era bem estranha. Acho que ainda sou porque continuo fazendo esse tipo de coisa até hoje. Penso que não tenho o direito de magoar as pessoas dizendo que não gostei de "Dersu Uzala". Nada que a análise não cure... Assim espero.

Vícios

Tenho passado horas com um cigarro na mão. Gostaria muito de me livrar disso, mas é engraçado como a falta do que fazer me faz acender um. E quando há muitas coisas a fazer, a cena também se repete. Tudo é motivo.

Uma festa cheia de gente? Isqueiro na mão. Muitos textos a escrever? Cato o meu maço. Vi alguém que não gostaria de ver? Ai, só mais um...

A verdade é que acho que isso é muito mais psicológico do que físico. A tentativa eterna de me esconder atrás de um objeto. Um objeto qualquer. Como na pista de dança não é possível achar um vaso de plantas, lá estou eu e meu cigarro na mão. Não, definitivamente não sou viciada em nicotina. Sou viciada em me esconder.

Quando passei uns meses na Inglaterra e ainda não tinha descoberto o cigarro, meu vício consistia em ficar prendendo o meu cabelo. Roubei o prendedor de uma amiga minha e ele tinha o estranho hábito de ficar escorregando do meu cabelo. De tempos em tempos, lá estava eu com o prendedor na boca, puxando meu cabelo para trás, prendendo metade dele e puxando uns fiozinhos pra frente. Uma noite em uma pista de dança podia ser o equivalente a umas 30 repetições desse ritual.

Só me toquei disso quando, no meio de uma bebedeira, resolvemos brincar de câmera de vídeo. A gente fingia que tinha uma câmera na mão e filmava uns aos outros. Um cara, que eu resolvi filmar, conseguiu repetir com perfeição aquele meu hábito. E depois riu pra mim. Fui desmascarada por um quase-estranho.

terça-feira, agosto 17, 2004

Meu primeiro post

Isso é apenas um teste. Um teste para ver como funciona o mundo dos blogs.