domingo, dezembro 19, 2010

O meu rancor

Onde você costuma guardar o seu rancor? Dizem que o Mark Zuckerberg transformou o dele em bilhões de dólares. Tinha levado um pé na bunda da namorada e estava puto por não ser aceito naquelas fraternidades loucas americanas. O resultado: cheio de rancor no coração, ele foi lá e criou o Facebook. Reza a lenda ainda que o sujeito hoje tem dois cartões. Um que diz "Mark Zuckerberg - CEO" e outro que diz "Mark Zukerberg - I'm CEO... bitch!".

Incrível como a maioria diz ter desprezo por esse sentimento, enquanto eu, cada vez mais, acho que ele move as pessoas. O mais louco é que, impedida por uma etiqueta social que não me permite colocá-lo para fora (sob pena de ser tachada de descontrolada), percebi que fiquei viciada naquilo que chamo de "músicas de rancor". Tenho verdadeira adoração por elas, sou capaz de ouvi-las por horas e ainda cantá-las com toda força quando estou sozinha.

Existem poucas coisas mais libertadoras que berrar And I'm here to remind you / Of the mess you left when you went away. A Lily Allen também é mestra em criar letras assim: At first when I see you cry / Yeah it makes me smile, yeah it makes me smile / At worst I feel bad for a while / But then I just smile / I go ahead and smile. E o melhor é que canta isso com aquela vozinha mais doce do mundo.

Para completar, descobri nos últimos dias outra música ótima também. O refrão é assim: When you see my face / Hope it gives you hell, hope it gives you hell / When you walk my way / Hope it gives you hell, hope it gives you hell. Quer sentimento mais genuíno que esse? Eu espero, do fundo do meu coração, que, quando você me vir, isso te infernize. Quantas vezes eu já não quis dizer isso na cara de um monte de gente? Tenho ouvido essa música incessantemente para compensar.

Mas a verdade é que não dá para sair contando isso para todo mundo. Até porque as respostas vão ser sempre naquele sentido do "guardar rancor nunca é bom, minha filha". Pois eu vou além e digo: sublimar o rancor é que não faz bem. Bom mesmo é colocá-lo todo para fora. E ficar bilionário logo depois, de preferência.

Agora aumenta o seu volume aí:



"Gives You Hell" - The All-American Rejects

terça-feira, setembro 07, 2010

E se...

Por muito tempo eu quis escrever sobre um troço chamado "e se". É uma brincadeira que eu vivo fazendo comigo mesma. Funciona assim: você começa a se fazer um monte de perguntas, todas começando com "e se". Você pode completar os seus "e se" com possibilidades bobas, claro. Mas no meu caso nunca é assim. Está mais para: "E se eu largasse este emprego no mês que vem?"; "E se eu vendesse o apartamento, o carro e fosse embora?"; "E se eu decidisse que agora quero ter um filho?". A graça é imaginar que há uma infinidade de possibilidades na vida. A não-graça é que, muitas vezes, você não tem o menor controle sobre o que pode acontecer se resolver dar cabo ao seu "e se" do momento.

Antes de tomar uma das últimas atitudes drásticas da minha vida, tinha ouvido uma frase mais ou menos assim: "É preciso ter coragem para ser feliz". Foi em um programa de televisão. Comecei a chorar e achei que alguém estava me mandando uma mensagem. Aquilo se encaixava perfeitamente na minha brincadeira do "e se". Porque existem pessoas que ficam eternamente brincando. Ficam só na imaginação do que poderia acontecer, mas não têm a coragem de arriscar.

Eu falei no primeiro parágrafo que a não-graça do "e se" é a falta de controle sobre o que pode acontecer. Pois é, a vida tem disso. Quando a gente resolve dizer sim a uma dessas perguntas importantes, tem que aceitar que está quase como se jogando de um precipício. E pode ser mais doloroso do que se imagina. No meu caso foi.

Mas o mundo está cheio de mensagens como essa da coragem para ser feliz. Há poucos dias, lendo a coluna de uma amiga, eu achei outra. Ela falava sobre o risco que é se dizer para alguém "eu te amo". Aí, um dos leitores comentou: "Acho que vale a pena correr o risco. Não dar certo é apenas uma das possibilidades. A outra… A outra é ser feliz!". Acho que vou retomar a minha coragem e ir logo ali me atirar do precipício de novo.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

32 de março

Lembro do meu aniversário de 5 anos. É o primeiro que eu consigo me lembrar. Eu ia fazer 5 anos no dia 5 de março, e a associação foi imediata na minha ingênua cabecinha de criança: o dia do aniversário variava de acordo com a idade. Pô, 5 anos no dia 5. No ano seguinte, 6 anos no dia 6, claro. Quem haveria de discordar de tal brilhante conclusão? Não é mentira, não, juro que pensei isso. E agora acho curioso ter lembrado dessa história no ano em que faço 31. Penso que seria a minha última chance de ter uma idade que casasse com um dia do mês. Pois não existe um 32 de março. Nem nunca vai existir.

O que isso significa? Que estou velha para devaneios e deveria cair na real? Que os dias realmente nunca casam com as nossas idades e, se eu não aprender isso agora, a partir do ano que vem vou ter que aprender na marra?

Fazer 31 anos agora já me parece até moleza. Medo de fazer 32.