segunda-feira, janeiro 23, 2006

Macaca de auditório

A sensação é muito esquisita, mas me persegue há anos. É tão presente que eu consegui achar um nome perfeito. Chama-se sensação “macaca de auditório”. Às vezes encontro pessoas que entendem de primeira o que eu quero dizer. São aquelas que sofrem desse mesmo mal.

Funciona assim: suas amigas acabaram de se desentender na mesa do bar e ficou um climão? Você precisa enfrentar pai-e-mãe-que-mal-se-cumprimentam em um mesmo recinto? Seu namorado está de mau humor? Vamos lá, pegue o seu pom-pom e dê uma de cheerleader. Sua obrigação é animar todo mundo e acabar com caras enfezadas. A verdade é que ninguém mandou você animar ninguém, mas você se sente na obrigação mesmo assim.

Acreditem, é exaustivo. Tem horas que me pergunto por que não consigo ser a pessoa que fecha a cara e espera ser animada por terceiros. Ou a pessoa que vê uma cara amarrada e deixa por isso mesmo. Eu juro que ando treinando, mas geralmente não passo dos 5 minutos. É o tempo que consigo me segurar até inventar um novo assunto, fazer graça com o que acabou de acontecer (mesmo que não tenha graça nenhuma), ou contar qualquer história patética da minha vida. Tudo para tentar reverter a situação.

É tão ridículo que eu acabo de me dar conta que desenvolvi técnicas para acabar com climas ruins. Mas deixo claro que tenho plena consciência dos momentos em que visto o personagem “macaca de auditório”. E eles contam pontos. Só não sei o que vou fazer quando alguém bater um recorde e o meu pote transbordar. Provavelmente, vou vestir o personagem “menina boazinha” e tentar esquecer. Meu caso de múltiplas personalidades é mesmo muito sério.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Sobre os judeus

Há muito tempo, eu vi um episódio do Seinfeld em que um cara, depois de ter se convertido ao judaísmo, se sentia muito à vontade para contar piadas de judeu. Se ele já fazia parte do povo, tinha todo o direito. Assim, eu agora também me dou o direito de falar sobre os judeus. Até porque eu já nasci uma. Então, vamos lá. Vou falar das manias judaicas mais curiosas.

Isso já aconteceu uma centena de vezes: estou passeando com o meu namorado e encontro um judeu conhecido. Depois de um tempo, ele me pergunta de onde conheço a tal pessoa. A resposta quase sempre é “ah, sei lá, como eu vou te explicar? Ele é judeu...”.

Sempre que aparece algum judeu famoso, nós, judeus, nos cutucamos e comentamos com quem está do lado: “esse cara é judeu!”. Não à toa, há uma pá de livros espalhados pelo mundo com títulos como “Os 100 judeus mais famosos da História”. Tem um na estante da casa da minha irmã.

Só os judeus vão ao delírio em certas cenas de filmes do Woody Allen. Eu, por exemplo, adoro o bar-mitzva temático de “Desconstruindo Harry”. Venho descobrindo, quanto mais amigos que não são judeus aparecem na minha vida, que tem muita gente por aí que não curte tanto Woody Allen. E eu nem sabia disso.

Quando alguém da comunidade aparece com namorado ou namorada novos - e essa fofoca está rolando em um grupo de judeus - sempre tem um indivíduo que pergunta: “é judeu?”. Aliás, só nós, judeus, usamos essa palavra “comunidade”.

Fazemos questão de saber nome e sobrenome quando alguém que não é judeu diz: “conheci um judeu outro dia”, ou “eu já tive uma namorada judia!”. Porque nossos sobrenomes impronunciáveis são muito mais importantes que os nossos primeiros nomes.

Adoramos falar em hebraico entre nós para que os outros não entendam. Nossos avós fazem isso em ídish. Minha avó se aproveita dessa artimanha direto.

Filmes com temática judaica em cartaz são sucesso garantido na comunidade. Não importa se são péssimos. Todo mundo vai assistir.

Eu poderia ficar o dia todo aqui lembrando dessas peculiaridades. Mas depois de tudo isso, eu só consigo pensar em uma coisa. Aliás, estou me coçando de vontade de falar desde que comecei esse texto. Sabe o Seinfeld, que eu falei lá em cima? Pois é, ele é judeu!

domingo, janeiro 08, 2006

Vergonhas

Eu tenho umas vergonhas muito engraçadas. Por exemplo, eu tenho vergonha de entrar em uma farmácia só para me pesar e não comprar nada. Outro dia, passando por uma no Leblon, lembrei que precisava de um desodorante novo. Ótimo, era a desculpa perfeita. O plano era pegar o desodorante, pagar e, no fim de tudo, dar uma passadinha pela dita cuja. Mas enquanto esperava o moço passar o cartão, dei um espirrão inesquecível. O cara, talvez mais sem graça do que eu, pegou um lenço de papel e soltou: “toma, a senhora está precisando...”. Não preciso contar que nem me pesei depois disso. Assinei o papel do cartão e saí correndo.

Da série “minhas vergonhas”, ainda existem outras um pouco esquisitas. Por exemplo, eu morro de vergonha de aceitar dinheiro dos meus pais. Eu classifico essa vergonha como esquisita porque muita gente me diz que essa preocupação é uma grande bobagem. Mas uma bobagem pela qual eu, agora mestranda e dependente de uma bolsa miserável, tenho passado com certa freqüência. O pior é que quase nunca preciso pedir. Eles estão sempre oferecendo, cientes da minha nova condição de adulta que não tem mais como se sustentar. É terrível.

Acho que esse é o meu ponto mais fraco no momento. O dinheiro. E às vezes eu me martirizo por essa última escolha da minha vida. O mestrado. Só duas coisas costumam atenuar a sensação ruim. A primeira é quando vejo amigos dando plantão no jornal em fins de semana de sol. A segunda é quando descubro outras pessoas da minha idade que ainda precisam da ajuda financeira dos pais. No fim das contas, percebo que não sou um ser superior, como gostaria de ser, e posso me sentir mais leve com a desgraça alheia. Disso eu também tenho vergonha.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Sobre o casamento

Lembro que uma vez, eu devia ter uns 23 anos e tinha acabado de terminar um namoro, minha mãe me disse que eu ainda tinha uns dois bons anos pela frente para achar alguém e aí sim me casar. Ela fez isso na melhor das intenções, acreditem, mas o problema é que agora me dou conta que estou na porta dos 27 e não me casei com ninguém. Pelas contas dela, a essa altura eu já teria entrado em algum templo vestida de branco, ladeada pelos meus sobrinhos e sobrinhas como pajens e damas de honra da cerimônia.

Pois é, eu estou fugindo dos planos da minha mãe. E não tenho coragem de contar isso para ela, apesar de ter uma leve desconfiança de que ela já se deu conta disso há muito tempo. Continuo com o meu velho discurso de “a gente só tem que tentar ser feliz, da maneira que for”, mas admito que nem eu, em certos momentos, acredito muito nessa frase. Será que o que eu chamo de felicidade vai me fazer feliz no fim de tudo? Ou a felicidade seria já ter me casado?

Se estou infeliz solteira, com várias amigas já casadas e muitas outras com filhos? Não, mas acho isso tudo muito chato. Até porque ninguém está ficando mais novo por aqui e faltam só dois meses para o meu próximo aniversário. Aí fico me perguntando se os planos da minha mãe não seriam os meus próprios planos, que eu, sem perceber, coloquei em um embrulho com a etiqueta “o que a mamãe queria para mim”. Mas continuo com a sensação de que ainda prefiro me arriscar por aquilo que eu chamo - ou acredito ser - felicidade no momento. E esse assunto só volta a ser discutido quando eu chegar aos 30.