quarta-feira, junho 14, 2006

Inveja

Eu tenho ótimas idéias à noite. E li uma ótima explicação na Superinteressante uma vez sobre isso. À noite, supostamente, sofremos uma baixa de uma certa substância no cérebro, que seria responsável pelos nossos julgamentos. Ou seja, a gente acha que está tendo ótimas idéias, mas na manhã seguinte conseguimos perceber que a maioria dos nossos devaneios da noite anterior eram enormes bobagens. Porque o cérebro, depois de horas de sono, se encarrega de repor a tal substância.

Tudo bem, minhas idéias então não são ótimas. Além de perceber isso quando acordo, não consigo ter boas idéias à luz do dia. E passo a ter inveja de quem tem. E mais ainda de quem consegue colocar essas idéias em prática. Tenho odiado pessoas bem sucedidas.

A inveja, aliás, é um sentimento muito estranho. Principalmente se ela aparece nos momentos em que você está pensando nos rumos bem sucedidos da vida de uma pessoa de que gosta muito. Metade do seu rosto sorri. Já a outra metade franze a testa, como se pensasse “que droga, eu queria ser essa pessoa”.

Mas ninguém admite, de fato, sentir inveja. Na entrevista de emprego, na entrevista publicada na revista, em qualquer situação da vida, quando a pergunta é “qual o seu maior defeito?”, a insossa resposta é “sou perfeccionista”. Ou, no máximo, “sou muito exigente comigo mesmo”. Uma única vez me perguntaram isso em uma entrevista de emprego. A vontade era de responder “tenho inveja de vez em quando”. Mas o que saiu foi “eu durmo além da conta, sinto muito sono”, e depois dei uma risadinha, como se estivesse brincando.

Não estava brincando, não. O que eu queria dizer era que invisto muito no meu sono para ver se meu cérebro consegue repor, além da tal substância do julgamento, algum hormônio do bom senso. Para eu não sentir mais inveja de ninguém. Mas o dito cujo não tem tido muito sucesso nesse departamento. Maldito cérebro.

4 comentários:

Andy disse...

O problema da inveja é que ela pode nos levar a fazer coisas contra uma moral (social ou religiosa) para atingir o próximo. É o que São Tomás de Aquino chamou de "filhas" da inveja (murmuração, detração, ódio, exultação pela adversidade e aflição pela prosperidade). Mas eu, ao contrário do santo, não considero a essência da inveja pecaminosa. Mas eu não uso auréola, né?

Já sobre entrevistas de emprego, uma vez eu disse que meu maior defeito era ser arrogante. Faz uns três anos e meio isso e foi neste emprego que eu te conheci, aliás. É que eu, assim como o santo, considero a sinceridade uma baita virtude. Mas continuo sem usar auréola.

platgrin disse...

Muuuuito bom. Posso até ouvir sua voz.
Bjs
LL

Ciclope disse...

Gostei mto do seu blog. Como vc, tb tenho ótimas idéias à noite que teimam em não resistir ao dia seguinte. Ainda assim vc tem uns insights que eu gostaria de ter tido... Inveja? Hehe!!

Anônimo disse...

Muito natural na sua maneira de dizer o que sente. E claro que ter uma "pontinha" de inveja pode ser muito saudável, pois ela nos diz que em nós falta algo, que visto como possibilidade, nos faz prosseguir para atingir qualidades mais refinadas, trazendo um pouco de cada um a nossa volta, para ajudar a compor e embelezar nossa sinfonia...