terça-feira, setembro 21, 2004

Histórias para a posteridade

Eu não sei o que é ter que parar de brincar com a massinha para tomar banho. Hoje eu vi uma cena e não consegui segurar o riso. Minha pequena sobrinha de 2 anos chorou baldes porque foi obrigada a parar de brincar com a massinha. Ela sabia que a caixa embrulhada para presente tinha um milhão de potinhos de massinha antes mesmo de rasgar o papel de presente. E tudo o que ela queria era abrir todos os potinhos e me dizer o nome de todas as cores de todas as massinhas.

Mas aí: hora do banho. A babá chegou perto. E ela, que percebeu o que estava para acontecer, deu uns tremiliques e aí... litros de lágrimas. Lágrimas de verdade. Muitas. Todas. Em profusão. Eu ri (porque não sabia como me portar naquela situação) e levei um carão da babá. Me senti culpada.

Saí de lá, esbarrei em um primo na rua e narrei a cena. E ele me disse, com a cara mais séria do mundo, que "eu não sabia o que era ter que parar de brincar com a massinha para tomar banho". E eu decidi que vou guardar essa história.

Uma das únicas histórias que a minha mãe guarda da minha infância é a de uma noite em que eu chorei baldes porque queria fazer uma caricatura, em um dos parques da Disney. Pede pra minha mãe contar alguma lembrança da minha infância e vc ouvirá essa história. Pede outra e nada mais vai sair dali.

Tremenda sacanagem. A minha infância se deu em uma época em que não existiam máquinas digitais ou câmeras de vídeo por todos os cantos. As poucas fotos (raríssimas, já que sou a terceira filha) não contam muito. Tudo o que sei é que chorei uma noite inteira por causa de uma caricatura. As pessoas deveriam nascer com um aviso pendurado no pescoço: "Caros pais e familiares, guardem as lembranças da infância desse novo sujeito. Elas serão importantes para ele em um futuro não muito distante."

Nos últimos anos, com muito esforço, consegui colecionar uma porção de fragmentos de memória dos anos que precederam os meus 10 anos. Com o tempo vou contando aqui. São momentos inéditos até para quem os viveu comigo, já que nem a minha mãe lembra.

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